Dica 9 – Segurança

(por Richard Paul Dunner)

Tivemos um aumento considerável de participantes nas provas Audax Randonneurs São Paulo nos últimos 3 anos, desde o inicio das atividades de nosso grupo.
Em todas as nossas provas sempre reiteramos o aspecto segurança, insistindo nos itens de segurança obrigatórios: capacete, colete refletivo e luz nas bicicletas.

Apesar de nossa ênfase, ainda existe uma lacuna muito grande de conhecimento e de consciência do ciclista de estrada relativa aos fatores de perigo. Com este artigo vamos tentar aumentar a consciência e o nível de informação.

Para dar um boa alerta aos perigos da estrada, recomendamos olhar o video abaixo feito com Thor Hushvold, ciclista profissional Norueguês:

Em soma: O perigo está muitas vezes onde menos esperamos, e a nossa atitude e conhecimento pode evitar acidentes.

Causas de acidentes
Na Europa, calcula-se que somente um terço de todos os acidentes/incidentes de bicicletas são registrados. Isto porque a maior parte dos acidentes são de pequeno porte, que se resolvem com algum curativo e reconvalecencia sem consequencias significativas para o dia a dia, sem que tenha que ser acionada a policia, algum médico, hospital e também o convênio. Esta cifra oculta é considerável, e acreditamos que no Brasil seja muito similar.

Olhando para os casos mais graves, na Europa 100 % registrados, e as estatísticas publicadas relativas as causas de morte nas estradas de ciclistas em 2012, interessantemente também confirmadas pelas estatísticas americanas, mostram o seguinte:

tabela 1

Caso esteja interessado em saber mais veja o link:
http://www.pedbikeinfo.org/data/factsheet_crash.cfm

Medidas a serem tomadas por nos ciclistas
Nós ciclistas, nos movimentamos a força física (não temos motor), somos quase sempre mais lentos no trânsito que veículos a motor, as nossas reações demoram mais, e não temos a proteção de outros participantes do trânsito.
Portanto, o nosso comportamento tem que se adaptar as condições existentes, como falta de espaço, condições das estradas, atitude dos outros participantes da estrada.

Conhecer e respeitar as leis de trânsito
Em primeiro lugar, somos participantes do trânsito, com os mesmos direitos e obrigações que os outros participantes como caminhões, carros, motocicletas, carroças e pedestres. Também para nós, vale o Código Nacional de Trânsito (C.N.T)

Sempre que tenha dúvidas, dê uma olhada no texto disponibilizado no link abaixo:
http://www.denatran.gov.br/publicacoes/download/ctb_e_legislacao_complementar.pdf

Vadebike interpretou o código e publicou os básicos válidos para nos ciclistas no seu site:
http://vadebike.org/2004/08/o-que-o-codigo-de/#T

Temos, devido a malha viaria brasileira, menos opções de rota que em outros paises, sobretudo Europa, para as nossas provas do Audax Randonneurs. Assim, muitas vezes, vamos ter que compartilhar autoestradas com veículos motorizados viajando a velocidades muito maiores do que a nossa, o que aumenta o nosso risco.
Rigidamente visto, não deveriamos estar utilizando autoestradas (na Europa proibido), mas frequentemente no Brasil não existem outras opções para ir do lugar A ao lugar B.
Mas, independentemente do código, temos algumas regras básicas a seguir:

Obedeça os sinais de trânsito

1 2

 

 

 

 

 

 

 

 

Respeite a faixa de pedestre

3 4

 

 

 

 

 

 

Pare no farol vermelho, tire o pé do pedal e ponha o pé no chão

11 10

Pare! Não é por nada que existe a placa!

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Não pedale na contramão. Da uma falsa sensação de segurança, e confunde aos outros participantes do trânsito.

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Proibido para bicicletas, não pedale em estradas com esta proibição, e não pedale na calçada. A calçada é para os pedestres.

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Pedale na faixa da direita da rua, estrada, ou avenida onde esteja circulando.

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Evite pedalar entre entre fileiras de carros estejam em movimento ou parados. O seu lugar sempre é na faixa da direita. Devido aos maus costumes no Brasil, ocupe a faixa.

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Uma grande parte dos acidentes acontecem não somente por falta de atenção, mas por falta de comunicação. Sempre mostre para os outros usuários o que pretende fazer, sobretudo quando tenha que mudar de direção. Não temos setas e luzes, mas temos mãos e braços.

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Nas estradas, sempre pedale, quando possível, no acostamento mantendo uma certa distancia da faixa de rodagem. Nos casos em que esteja pedalando em grupo, continue mantendo uma distância adequada para a estrada. Se precisar, mantenha fila indiana, pedalando um atrás do outro.

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Nos casos sem acostamento, sempre pedale a direita, na beira da estrada, e em grupo sempre em fila indiana.

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Nas saídas das estradas, sempre cruze os acessos e saídas realizando o caminho mais curto possível, isto é na tangente, e não paralelo ou diagonal ao acesso.

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Resumo do nosso comportamento
No site vadebike, veja o link anexo, temos um ótimo resumo de como os ciclistas deveriam de se comportar na via pública:
http://vadebike.org/2005/12/dicas-para-o-ciclista-urbano-3/

Citamos:
Se quer ser tratado como veículo, porte-se como um: Se você se comporta como um veículo, sinalizando suas intenções, respeitando mãos de direção, sinais de tráfego, faixas de pedestre e etc., os motoristas o respeitarão mais. “Se aquele cara se preocupa com tudo isso, não é um mané qualquer que está aqui só atrapalhando”. Se, por outro lado, você anda na contramão, você os incomoda (sim, isso incomoda muitos motoristas, que têm a sensação que você está ocupando um espaço que não é seu e deveria estar na calçada). Passar em todos os sinais fechados também os irrita (“o folgado ali só faz isso porque não leva multa mesmo”). Outras pequenas infrações também irritam os motoristas, seja por vontade de cometê-las também, por uma falsa sensação de invasão de espaço pessoal ou pela sensação de injustiça (“pô, aquilo é proibido mas só porque ele tá de bicicleta ele pode fazer e eu não?”). Seja um modelo a ser espelhado e não um alvo da raiva e frustração alheias.
Fim de citado

Usar itens de segurança
Nós ciclistas não temos a estrutura de proteção dos caminhões e carros. Isto nos expõe em forma muito maior a ferimentos em caso de qualquer imprevisto ou acidente.
Devido a isto, nos nossos eventos no Audax Randonneurs São Paulo, exigimos os seguintes itens de segurança básicos:

Capacete
Hoje todos os capacetes são padronizados, olhe para ter o certificado ………….

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Não use capacete tipo coquinho, que não tem entradas de ar e vai esquentar demais a sua cabeça em dias de sol com temperaturas mais altas.
Dê preferência a capacetes com entrada de vento com cores claras. As cores claras esquentam muito menos sob o sol, e são muito mais visiveis no escuro.

Equipamento para pedal noturno
De noite vale a seguinte regra:
Trata-se não somente de ver, mas de ser visto.

Devido a isto é essencial usar os equipamentos seguintes:

Colete refletivo
Absolutamente essencial.
Veja para isto o vídeo abaixo mostrando a situação de um motorista dirigindo de noite:

Existem hoje inúmeros modelos. Os mais usados são os modelos em X, e ou cortaventos com material refletivo.

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Em termos de normas, para Europa precisa ser cortavento com material refletivo. Em provas como PBP os coletes em X não são aceitos.
Não economize na sua segurança! Adquira equipamentos que efetivamente façam com que você seja visto pelos motoristas. Adquira coletes que sejam realmente refletivos.

Luz dianteira e traseira
Estes itens são outra vez para que o ciclista seja visto pelos outros usuarios da estrada e também para enxergar a estrada a frente.

Aqui existem varias soluções, mas em vista da enorme importância deste item para nós randonneurs, que frequentemente estaremos pedalando de noite, gostaríamos de mencionar os padrões exigidos mais uma vez:

Farol dianteiro (luz branca/amarela), lanterna traseira (luz vermelha). A falta de qualquer um destes acessórios na vistoria (funcionando!!! verifique antes de sair de casa!!!) ou a não utilização durante o evento resultará na desclassificação imediata do ciclista. A iluminação deverá estar fixada a bicicleta, em ponto visível de diversos ângulos, sem obstruções (bagageiros/alforjes/bolsas de selim, bagagens em geral). Para o caso de utilização de alforges e/ou bagageiros, o kit de iluminação principal deverá obrigatoriamente estar fixado a estes.

Quanto aos modelos de faróis e lanternas, estes devem ser funcionais e não decorativos; devem atender simultaneamente as necessidades do ciclista em
“ver” e “ser visto”. Iluminação traseira deve obrigatoriamente ser vermelha, iluminação frontal deve ser branca/amarela.

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Não são aceitos em hipótese nenhuma equipamento para iluminação do tipo “frog” ou similares, contendo apenas um pequeno led. Este tipo de equipamento quando utilizado sozinho como forma de sinalização, põe em risco a segurança do ciclista visto que sua visibilidade é mínima. Poderá ser utilizado somente como complemento.

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Para quem queira melhorar a sua visão dianteira, e recomendamos, existem hoje faróis a led alimentados com baterias recarregáveis, com iluminação muito mais potente que os tradicionais faróis a pilhas.

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Este tipo de farol pode ser facilmente comprado por internet e importado, dentro das normas alfandegarias brasileiras a preços razoáveis. Este sistema aumentará o seu campo de visão consideravelmente quando mais se precisa, a velocidades maiores.

A título complementar, a solução mais cara e sofísticada, é o dínamo no cubo. Hoje é a mais apropriada, devido a incorporação de instrumentos como GPS e todo tipo de aparelhos eletrónicos com a necessidade de carga por muitas horas.
A solução “Rolls Royce” seria o sistema Son da empresa Mueller, alemã, que com o Farol Busch Mueller vem com uma tomada usb, para ser usada como alimentação para outros instrumentos eletronicos.

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Usar o bom senso e pedalar de forma defensiva
Nenhum equipamento de segurança vai servir se o usuario não adapta o seu comportamento às condições da estrada e ao comportamento dos outros usuários. Não adianta insistir em direitos ou parágrafos do C.N.T.. Tem que prevalecer o bom senso.

Temos que nos lembrar sempre que temos pouca proteção física adicional devido aos itens de segurança, e que depois dos pedestres, somos o elo menos protegido e portanto mais fraco na via pública.
Falando do bom senso, me lembro de um episódio, que vivenciei como motorista, e publiquei no facebook como um mal exemplo em 03.12.2013:

O conto do ciclista suicida
A quinta feira antes do Audax de Holambra, fui pegar a Silvia por volta das 3 da tarde. Peguei como sempre a Rua Senador Vergueiro, Alto da Boa Vista, cruzei a Rua 9 de Julho e, uma rua mais tarde, alcancei um ciclista magro e alto, de mtb e mochila nas costas. Chegando na bifurcação seguinte onde tive que reduzir a velocidade, o ciclista me alcançou e ultrapassou pela direita, mas tão rente que fiquei com receio de atropelá-lo. No seguinte trecho de leve subida, passei ao lado dele, abaixei o vidro e pedi para ele tomar mais cuidado. Ele fez o sinal que não entendeu. Eu continuei em descida até a rotatoria da Rua Marechal Deodoro. Perto da rotatoria tinha um ciclista a direita em baixa velocidade. Reduzi e desviei para evitar qualquer problema e entrei na rotatoria. De repente, já na rotatoria, me aparece o mesmo ciclista, ultrapassando pela esquerda a mil, não sei nem por qual espaço. Na próxima subida alcancei ele outra vez e ultrapassei, mas no seguinte cruzamento com a Rua Graham Bell onde tive que reduzir para virar a direita me ultapassou outra vez a mil pela direita se lançando na descida na Graham Bell (mão dupla) que termina na Rua Alberto Hodge. Cruzou a rua na diagonal para esquerda como se a rua fosse toda sua, sem freiar em nenhum momento, entrando na esquina a esquerda. Naquela esquina tem um muro da Sabesp, sem visão alguma, e não dava para saber se vinha algum carro pela esquerda. Devido a falta de visão, me obrigando a quase parar o carro no cruzamento, as lombadas na Rua Alberto Hodge e a leve descida depois, não consegui alcançar ele mais. O camarada dava a sensação de um louco motorizado, que estava tentando mostrar para mim e o mundo, como uma bicicleta é muito melhor que um carro, e isto de uma forma completamente suicida e estúpida. Me perguntei, “o que ele queria mostrar e a quem?!” Fiquei com vergonha de nós ciclistas.

Até hoje, nunca desisti de uma pedalada por problemas físicos. As minhas razões sempre foram pensando na minha integridade física, isto é, segurança na estrada.

Todos nós já estivemos na situação em que, devido as condições ruins da estrada, a atitude de outros usuários, o mal tempo com falta de visibilidade, ou até devido a equipamento e material defeituoso, nos sentimos inseguros, confusos, e com medo na estrada.

Exatamente neste momento é hora de ter juízo e tomar a decisão correta, e eventualmente, apesar de todo o esforço já realizado, desistir de qualquer pedalada.

Abraços e bom pedal,
Richard

**para entrar em contato com o Richard Dunner, escreva para rdunner@uol.com.br.

3 respostas em “Dica 9 – Segurança

  1. Excelente texto, grande Richard 🙂 Que sirva de exemplo! Sobre pedalar entre os carros (parados), já vi em vários sites (como no vadebike) como algo que NÃO há risco (se feito de forma adequada), e queria que esclarecesse. Obrigado! Bons pedais 🙂

    “Por outro lado, passar por entre os carros parados não oferece risco, quando feito de forma adequada.” http://vadebike.org/2012/08/bicicletas-ciclistas-trafegarem-corredor-entre-os-carros/

  2. Bom relato e boas dicas para todos.
    Não é difícil ver coisas deste tipo, penso que na maioria das vezes não são ciclistas, assim como distinguem motociclistas e motoqueiros. O que vejo aqui em Campinas, principalmente na Lagoa do Taquaral, principal local de treino de ciclistas, é a mudança de atitude com a mudança de posições. Explico melhor. A pessoa, muitas vezes chega de carro para treinar, ao chegar você percebe que alguns não “respeitam” muito quem já está lá, por exemplo, se você esta seguindo pela ciclovia e o camarada quer entrar no estacionamento, por vezes ele não espera um pouquinho, muito pelo contrario, ele acelera e assim fecha o ciclista, meio de longe, mas quem pedala sabe das distancias, ao passo que basta ele “tirar o pé” que dá tempo do ciclista passar, mas não: o ciclista que pare! Depois que ele para, vai andar com a bike dele e corre o risco de passar por isto também e acho que mesmo assim, não aprende. Isto acontece com ciclistas, corredores e pessoas destes grupos grandes de MTB que passeiam a noite. É difícil, nós devemos olhar por nós mesmos e ponderar até onde devemos ir, no limite de nossa segurança. Nos Audax, eu não gosto que andem ao meu lado nem em pelotões, salvo em trechos de baixíssima velocidade. Inclusive esta foto deste pelotão que esta de frente, eu estou na ponta, mas o bacana é que estes sabiam andar em grupos e não tentaram ficar passando e pondo em risco a integridade de todos. Nos Audax, isto não é comum pra mim, costumo andar bem mais espaçado.
    Um abraço.

    • Obrigado por ter lido o artigo e por dar a sua opinião. O meu intuito foi alertar os ciclistas e direciona-los para seguir certos básicos. Andar em grupo é outra historia. Muitos dos participantes das nossas provas, não tem costume de pedalar em grupo e não conhecem os sinais para se comunicar. Mas este tema seria pauta para um artigo específico: “Pedalar em grupo”. Pode que descida escrever no futuro. Se achar ajuda melhor. Abraços .

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