Relato – Brevet 400 – Porto Alegre – 14/07/12 – Fabio Guariglia

Este brevet com certeza ficou conhecido como Brevet “Frost Free”!!

Desde o início no ano, já havia listado em minha agenda alguns brevets interessantes fora de São Paulo, para o caso de qualquer necessidade. Como nunca havia pedalado nenhum brevet 400, achei que seria arriscado tentar concluir os 400 apenas por aqui. Qualquer insucesso, poderia colocar o objetivo de chegar aos 1000k do calendário 2012 por água abaixo. Com isso, decidi ir até Porto Alegre e pedalar o Brevet 400 de 14/07/12 da Sociedade Audax de Ciclismo. Qualquer problema, ainda teria outra chance aqui em São Paulo no Brevet de 04/08/12.
Passagens e hotéis reservados, embarquei em 13/07/12 no vôo das 20:30hs. Levei minha bike em um malabike rígido da THULE, alugado na Tutto Bike (11 3872-5505). Show de malabike! O único problema deste tipo é que a probabilidade de pagar excesso de bagagem é praticamente 100%. Comigo não foi diferente, 17 quilos extras que tive que pagar na ida; confesso que exagerei um pouco com roupas, acessórios, ferramentas etc, mas foi tudo útil em algum momento. Paguei também alguns quilos a mais na volta.
Com um pequeno atraso no vôo, cheguei ao Hotel Porto Alegre por volta da 0:00hs de sábado. Devidamente acomodado, minha ansiedade não permitiu que eu deixasse para a manhã a montagem da magrela. Abri o malabike e em 25 minutos a bike já estava montada e regulada. Roupas para o brevet separadas, roupas extras, suplementos e ferramental (incluído o pneu reserva!) devidamente checado e acondicionado no bagageiro. Como sempre, algo foi esquecido. Desta vez foi a balaclava…… . Com o frio que estava fazendo em POA, decidi que ao acordar, aproveitaria a manhã de sábado para ir até uma loja e comprar outra balaclava e também uma 2ª pele. A largada seria dada às 15:00hs.
Pronto! Vamos dormir! Somente 1 cobertor na cama não deu conta do recado. Precisei colocar mais 1. Sinal de que a previsão do tempo se confirmaria. Durante toda a semana anterior ao brevet fui acompanhando a previsão para POA nos dias 14 e 15/07. Vi algo que nunca havia visto nos sites de previsão. Conhecia apenas as legendas de CHUVA, TEMPO ENCOBERTO e SOL. Nestas consultas para POA, vi a legenda do “GELINHO”, ao lado da previsão de 2°C.
Acordei por volta das 9:15hs. Banho, um belo café da manhã reforçado, fiz as compras da balaclava e a 2ª pele, ambos da CURTLO, passei no banco para sacar dinheiro e não ficar dependendo de cartão. Cheguei ao hotel eram 12:30hs. Relaxei meia hora, me preparei e sai em direção ao Shopping DC Navegantes às 13:00hs. O DC fica a 5 minutos de bike do hotel.
No shopping, encontrei a Ninki, o organizadora dos brevets da SAC. Falamos rapidamente. Retirei meu passaporte e fui almoçar. Self service! Caprichei na massa e no purê! Bem alimentado, fiquei aguardando o início do briefing, marcado para às 13:45hs. Neste tempo, encontrei os amigos Roberto Trevisan e Carlos Polesello. Ficamos batendo papo e eles me alertaram sobre o frio da noite e madrugada. Como largaria às 15:00hs e só chegaria ao PC1 já de noite (120km), por volta das 21:30hs segundo meu planejamento, decidi já sair preparado para o início da noite. Neste momento o termômetro marcava 13°C. Com isso, sai vestido com a segunda pele, 2 camisetas de ciclismo por cima, manguito e mais o colete refletivo fechado. Luvas com dedos fechados e uma bandana que além da cabeça também cobria parte das orelhas. Estava de bermuda de ciclismo e por “burrice”, decidi não levar pernito. No bagageiro ainda levava mais 1 par de manguito, 2 camisetas de ciclismo, 1 bermuda, balaclava e o corta vento impermeável.
Às 15:00hs em ponto, a Ninki deu a largada. Neste momento uma mistura de ansiedade e dúvidas pairava na cabeça. Decidi pensar somente neste primeiro trecho de 120km até o PC1, em Pantano Grande. Com uma altimetria bem tranqüila, pretendia ganhar tempo neste trecho para uma possível parada para banho no Hotel Antonios, em Santa Cruz do Sul, no KM 260 do brevet. Passamos pelas pontes de acesso a POA, giramos em um pequeno trecho da BR-116 e logo acessávamos a RS-290. Um tapetão até Pantano Grande, com acostamento razoável. Logo formaram-se alguns pelotões. Entrei no meio de um deles e segui. Vento contra, relativamente forte, termômetro marcando 13°C.
Era um pelotão grande, com aproximadamente 12 randonneurs. Giramos assim por bastante tempo e percebi que não havia rodízio para puxar o pelotão. Uma sacanagem com o cara lá da frente. Em determinado momento, apertei o giro, ultrapassei o pelotão e resolvi fazer minha parte em cortar um pouco o vento para o pelotão. Assim, esperava que todos se tocassem e passassem também a fazer o rodízio. Quando deixei a frente, já vim avisando o pessoal para trocarmos a cada 10, 15 minutos, para não sobrecarregar ninguém. Não deu muito certo e nem todos iam à frente. A cada 30 minutos, eu ia até a frente e fazia minha parte. Com o tempo, o pelotão foi diminuindo. Acabamos ficando em 5 e depois de algum tempo, 4 randonneurs. Começamos a conversar. Conheci o casal Alex e Simone de Santa Maria – RS. Ambos participaram com sucesso do PBP 2011. Conheci também o Gilson, de Joinville – SC, que por sinal também estava hospedado no mesmo hotel que eu. O Gilson participou com sucesso no 1º Giro do Chimarrão, 1000k, realizado em 09/2010. Então, eu estava pedalando ao lado de feras do randonnée!
O ritmo estava excelente! Girávamos grande parte do tempo acima dos 30km/h. Por volta das 17:50hs, os últimos raios de sol já desapareciam no horizonte, ficando apenas aquela mancha avermelhada. Uma paisagem muito linda! Noite caindo, juntamente com a temperatura. Mais ou menos 20 minutos depois, resolvi fazer uma parada rápida para trocar a bandana pela balaclava pois o ar já estava começando a ficar gelado. Queria proteger principalmente minha garganta, não apenas a cobrindo da incidência do ar gelado, como também cobrindo a boca para respirar um ar menos frio. Com esta parada, me distanciei do pequeno pelotão e segui sozinho, mantendo o mesmo bom ritmo de antes. A escuridão caiu de vez e então passei a pedalar com o farol ligado. Levei o de 900 lumens com 2 baterias. Nem cheguei a utilizar a reserva durante o brevet. Realmente este farolzinho chinês é muito bom! (www.dealextreme.com).
Neste momento, comecei a fazer minhas comparações entre pedalar uma MTB e uma speed nos brevets. Realmente é um outro mundo! Perde-se um pouco do conforto da MTB, mas os ganhos são bem maiores. O rendimento é incomparável! Coisas que todos nós sabemos, mas pela primeira vez sentida por mim em um brevet. Sentia-me muito bem na bike, girando bem, rendendo bem…..estava sempre atento com alimentação e hidratação. Como almocei muito bem antes de largar, vim mantendo este trecho somente com glicodry e água. Passado algum tempo, encostei novamente no pequeno pelotão e assim seguimos até o PC1, no Restaurante Raabelandia em Pantano Grande, com 120km às 20:05hs, com média horária de 23,6Km/h.
O próximo trecho até Encruzilhada do Sul, no KM 161 do brevet seria com uma altimetria mais pesada. Abasteci as caramanholas com água e glicodry. Tomei um lanche reforçado, 2 mistos, 1 pão na chapa, 1 suco de laranja, 1 gatorade, 1 café com leite bem melado, um pão com massa doce e muita água. Vale lembrar que os 2 mistos e o pão na chapa foram feitos com pão cassetinho, e não pão francês, bah tchê! Ao pagar a conta, ainda levei 2 diamantes negros.
Não lembro bem ao certo o horário de saída do PC1. Lembro-me apenas do frio que senti ao voltar a pedalar. O termômetro marcava 7°C. Logo na saída do PC já tinha o acesso para a RS-471, um pequeno trecho dentro da cidadezinha e logo depois escuridão total. Ao olhar para o céu, vi o céu mais lindo que já vi na vida. Completamente limpo e estrelado, conseguindo ver até a “mancha” mais clara formada pela via láctea. Se por um lado aquele céu completamente limpo e estrelado era lindo, por outro me dizia que realmente a temperatura iria cair mais. Segui pedalando.
Inicio dos trechos em subida. Um trecho bem chato, pouquíssimo movimento na estrada, nenhum randonneur por perto. Estava entre os 10 primeiros a passar pelo PC1. Quando sai deste PC, os primeiros já haviam saído há algum tempo e o pessoal que vinha atrás estava chegando no momento de minha saída. Então com certeza seria um trecho totalmente solitário na estrada. Breu total! Enxergava somente a área de alcance do farol, nada mais, o que dá uma sensação de desorientação espacial. Neste trecho, comecei a me sentir enjoado por conta do glicodry. Estou sem muita tolerância para este tipo de suplemento. Com isso, acabei atacando os diamantes negros. Girados os monótonos 41Kms, logo acessei a entrada do posto, PC2, às 23:17hs, com 161Kms nas costas. Estava um vento bem forte mas não me dei conta da temperatura pois o trecho teve muita subida.
Passaporte devidamente carimbado, fui ao banheiro para o tradicionalíssimo banho tcheco. Lavei as mãos, o rosto e fui obrigado a parar por ai. A água estava um gelo!
Na sequencia, me preparei para atacar o self service, oferecido pela organização. Peguei bastante massa, com molho vermelho, muito queijo ralado e 2 lindas cocas. Comi o primeiro prato e tive que dar um pequeno repeteco. Durante o segundo prato, o frio começou a me incomodar e logo estava com as mãos geladas, nariz gelado e pés também. Olhei no polar e a temperatura era de 4°C. Fui ao banheiro, troquei uma das camisas que estava um pouco molhada de suor e coloquei mais uma. Coloquei também mais 1 manguito encima do que eu já estava usando e coloquei também a outra bermuda por cima. Neste momento me arrependi amargamente por ter deixado o pernito….. . Pra finalizar, por cima de tudo, coloquei o corta vento.
Sai do banheiro e pedi um chocolate bem quente para tentar esquentar um pouco. Estava com muito frio e tremendo. Fiquei extremamente preocupado com minha saída deste PC. Estava tremendo de frio e o trecho até o PC3 era o mesmo da vinda, ou seja, todas aquelas subidas seriam agora imensas descidas……..o PC3 era no mesmo local do PC1, porém virtual. Alguns no PC já cogitavam parar por ali.
Tomei meu chocolate e vi, no balcão, diversos jornais. Não deu outra! Coloquei uma folha de jornal dobrada entre cada camiseta, coloquei uma folha em cada sapatilha e entre as bermudas. O chocolate começou a fazer algum efeito e não sentia mais tanto frio. Então fui lá fora abastecer as caramanholas. Um vento forte e muito gelado fez com que eu voltasse para dentro do restaurante novamente batendo o queixo. Mais 2 chocolates pra dentro! Estava pronto para sair. Neste tempo entre comer e tentar manter o corpo aquecido, fiquei mais de 1:20hs parado no PC. Vi que em uma das mesas haviam 4 randonneurs se preparando para sair. Decidi sair junto.
Saímos juntos do PC2, não lembro bem o horário. Logo de cara algumas descidas! O frio que senti foi algo que nunca havia sentido antes. Um frio que dói, uma sensação de completo desconforto. Aliado a completa escuridão, o animo começa diminuir….
Depois de algumas descidas e pouquíssimas subidas, que foram pedaladas com relação pesada e de pé, o corpo começou a esquentar e diminuir aquela terrível sensação de frio. Assim, começamos a conversar. Estava pedalando com os, agora amigos, de Teutônia-RS. O casal Bruno e Suzana, o Ruimar e o Muky. Pessoal extremamente simpático, que me trataram com se eu já fizesse parte do grupo. Descemos este trecho conversando, o que fez com que o tempo passasse um pouco mais rápido. Em determinado trecho, resolvi dar uma acelerada para esquentar e espantar o sono que dava alguns sinais. Logo estava pedalando sozinho à frente quando avistei um cachorro correndo no acostamento. Quando fui passar por ele, ele entrou repentinamente na estrada. Consegui apenas dar uma leve virada no guidão, por conta da velocidade. Foi o suficiente para somente o rabo do cachorro triscar na roda dianteira e livrar o resto. Foi por pouco! Xinguei o pobre cachorro assustado e pensei: “ O que um cachorro faz a essa hora, nesse puta frio, correndo na estrada???”. Talvez o cachorro tenha pensado o mesmo de mim: “O que esse idiota faz a essa hora, neste puta frio, correndo de bicicleta pela estrada???”. Vai saber…….
Passado o susto, diminui o ritmo e logo o pessoal encostou. Assim fomos até o PC3, no Restaurante Raabelandia em Pantano Grande, no KM 202 do brevet. Fui muito bom ver algum lugar claro e bem iluminado. Deu um certo animo, que estava meio abalado por conta da escuridão e do frio. Deixamos as bikes do lado de fora e entramos rapidamente para sairmos do frio. O termômetro já marcava 2°C.
Fui logo ao balcão e pedi cocas, cafés com leite, pães na chapa (no pão cassetinho tchê) e sucos de laranja. Abasteci as caramanholas somente com água. Ao ir ao banheiro, constatei que toda minha roupa embaixo do corta vento estava encharcada de suor. Usar o corta vento naquela temperatura era fundamental, então decidi manter a roupa daquele jeito, e com o corta vento fechado transformar aquelas roupas encharcadas por baixo num tipo de sistema de calefação (eh engenharia….). Desde que aquecido, não me importava em estar molhado. Na saída, ainda comprei 2 pães de queijo, uma cuca de coco linda, 2 diamantes negros e um sonho de salsa para levar. Cabeça de gordo é fogo!!! Se bem que foram bem necessários e caíram muito bem durante o trajeto.
Alimentados e abastecidos, saímos do PC3 exatamente às 2:51hs de domingo. Para a confirmação de passagem neste PC virtual, era obrigatória a apresentação de um cupom fiscal do restaurante, juntamente com o passaporte no momento da chegada. Decorridas 11:51hs desde a largada e com 202km percorridos, vínhamos com média horária geral de 17,04Km/h. Para chegarmos dentro das 27hs permitidas para o trajeto de 420kms, precisaríamos manter no mínimo média geral de 15,56Km/h.
Ao sair do PC3, mais uma vez fomos castigados com o frio. 2°C encima de uma bicicleta a 25km/h faz com que tenhamos uma sensação térmica de -9°C, segundo o site do INMET (http://www.inmet.gov.br/html/clima/sensacao_termica/index.html). Dói, é extremamente desconfortável, anestesia as extremidades dos dedos das mãos e dos pés, a ponta do nariz, queima os lábios. Resumindo, é terrível. Chegar a um PC, neste brevet, tornou-se sinônimo de sofrimento…. . Até que o corpo esquentasse o suficiente, iam-se longos 10, 15 minutos de tortura.
Neste trecho, teríamos pela frente 48Kms, ainda na RS-471 até o PC4, em Santa Cruz do Sul, com 260Kms rodados. Nesta cidade, havia feito uma pré reserva no Hotel Antonios, com a esperança de uma parada para banho e dependendo do horário, poder pegar o café da manhã.
Giramos no inicio conversando bastante, mantendo um ritmo não tão rápido, porém constante. Com a escuridão, não posso relatar nada das paisagens por onde passamos. Só víamos a pista, as faixas e os acostamentos, onde havia. Boa parte deste trecho não possuía acostamento, porém o movimento na estrada era praticamente inexistente, o que nos garantia tranqüilidade para pedalar. Lembro-me de, ao passar sobre uma ponte, ver um rato assustado correndo no mesmo sentido que o nosso, beirando o meio fio. Pensei que se seguisse naquela velocidade, conseguiria chegar a tempo em Porto Alegre, hehehehe.
Em determinado ponto, o Muky e a Suzana pediram para pararmos rapidamente, pois o sono estava os fazendo cochilarem encima das bikes. Parada rápida para um xixizinho, uma alongada e um gole de água bem gelada. Neste momento, foi-se um dos diamantes negros, que estava bem duro por conta do frio.
Voltamos a girar, fazendo uma outra parada em um pedágio da estrada, com grandes esperanças de encontrarmos uma jarra de café quente. Entramos em uma salinha com cadeiras e banheiros no “apoio ao usuário”. Sem café quente, havia chegado a hora de dar fim na cuca! Estava uma delícia e foi saboreada também pelos amigos. O mesmo fim tiveram os 2 pães de queijo.
Ao retornarmos ao pedal, mais uma vez fomos torturados pelo frio. Neste momento, o polar marcava 1°C. Com apenas 1°C, passei e desejar que a temperatura caísse mais 1 grau. Já que estava 1°C, seria melhor termos 0°C e história para contar…. . Em termos de sofrimento não faria mais diferença. Em pouco tempo, entramos em Santa Cruz do Sul. Duas rápidas paradas para consultas ao mapa de rota e logo estávamos no PC4, 260kms pedalados às 6:10hs da manhã de domingo, média geral de 17,14Km/h. Mantivemos a média. Havia feito reserva no Hotel Antonios que ficava na mesma rua do PC4, porém não arrisquei ir para o hotel com medo de depois de um banho, e com a temperatura de 1°C, não conseguir sair.
O PC era dentro de um posto e nele existia uma loja de conveniência. Rapidamente carimbamos os passaportes e corremos para dentro. Havia disponível para comer alguns lanches e salgados, nada mais consistente para uma refeição mais completa. Em uma das geladeiras, haviam pizzas pré assadas, para micro ondas. Era o melhor que se apresentava para o momento. Como estávamos em 5, peguei 2 pizzas do único sabor disponível, peperonne, daquelas que deixa qualquer sistema digestivo em chamas. Além disso alguns sucos de laranja e cafés com leite bem melados. Sempre levo comigo uma cartela de pepsamar, além de uma de dorflex. Em pouco tempo começaram a aparecer outros randonneurs e a loja de conveniência ficou tomada por pessoas fedidas e congeladas, hehehehe. Mais uma vez, abasteci as caramanholas somente com água. Na hora de pagar a conta, peguei mais alguns chocolates.
Tudo pronto, saímos para mais uma sessão de tortura, sofrimento e dor por conta do frio. No céu já apareciam os primeiros vestígios da manhã e nesta hora a impressão era de que estava mais frio do que na madrugada. Ao consultar o polar, 0°C. Realmente estava mais frio. Lembro-me que até dei risada e falei a temperatura aos demais amigos. Falei também que meu próximo brevet fora de SP seria, no mínimo, na Bahia…. . Rodamos alguns quilômetros dentro de Santa Cruz e logo acessávamos a RS-287. Antes do trevo, passamos em frente à UNISC que possui um gramado bem grande e estava todo coberto por geada. Uma paisagem muito bonita. Até o próximo PA, localizado no Pesque e Pague Panorama, seriam 58Kms até o KM 318 do brevet. Lá a organização disponibilizou para os randonneurs um prato de massa.
Assim que acessamos a RS-287, tivemos uma imagem linda! Um subida bem íngreme e longa. Ao final dela já podíamos ver os primeiros raios do sol. Com o frio que eu estava sentido, nada melhor do que uma longa e íngreme subida! Marcha pesada e pedalando em pé até o máximo suportável. Rapidamente estava aquecido novamente, apesar de encharcado. Ainda 0°C, subimos girando o resto da serrinha e logo estávamos no plano, além de iluminados e irradiados pelo sol. Foi maravilhoso pedalar novamente no claro, sob os raios do sol. O astral muda completamente, o animo volta! Aos poucos, a temperatura foi subindo até chegar aos incríveis 4, 5°C. Verão total!
Depois de algum tempo na RS-287, acessamos a RS-405 passando pelas cidades de Passo do Sobrado e Vale Verde. Na sequencia, acessamos a RS-244, onde ficava o PA. O resto do trecho até o PA fomos conversando bastante para ajudar a espantar o sono que já se mostrava bem forte. Por algumas vezes, cheguei a quase cochilar encima da bicicleta.
Enfim o PA! Não tenho nem idéia do horário que chegamos. Devia ser entre 10 e 10:30hs. Ainda estava frio, por volta de 8, 9°C. Mesmo assim, resolvi tirar o corta vento e tentar secar um pouco as roupas. Tirei os manguitos, as camisetas, a segunda pele e as folhas de jornais todas esfareladas. Coloquei minha camiseta reserva que levava no bagageiro, coloquei as roupas molhadas no sol e fui comer meu prato de massa, acompanhado por 1 coca cola de 2 litros. Um prato só não deu conta e acabei comendo outro. Levei também em meu bagageiro escova e pasta de dentes. Foi uma sensação de outro mundo poder escovar os dentes.
Alimentado, abastecido e agora com hálito de menta, fui ver como estavam as roupas que coloquei pra secar. Escolhi as peças menos úmidas: 1 camiseta e 1 manguito. Como o dia estava ensolarado apesar do frio, me vesti com 2 camisetas, manguito e troquei a balaclava por uma bandana curta. Assim, saímos do PA, KM 318, com destino ao PC5, posto de gasolina Postaço no KM 368 do brevet, já na RS-401.
Este foi um trecho extremamente monótono e confuso, por conta do sono. Nem tenho muito o que detalhar dele. Sei que sentia muito sono e por alguns momentos senti que estávamos nos arrastando. Demos uma parada para acordar e bater algumas fotos encima da uma grande ponte sobre um rio, acho que era o Guaíba. Chegamos ao PC5 às 13:46hs, com 368Kms girados em 22:46hs, média geral de 16.16 Km/h.
Rapidamente comemos, bebemos e nos abastecemos. Exterminei tudo o que sobrava de comestível do bagageiro. Liguei para minha esposa para avisar que agora faltavam somente 52Kms. Aliás, liguei pra ela sempre que chegava aos PCs. Paguei a conta e como não poderia deixar passar em branco, levei comigo 3 paçoquinhas para qualquer eventualidade.
Saímos de PC5, rumo à chegada no DC Navegantes, último trecho do brevet. Faltando 52Kms e por volta de 4 horas para o tempo limite, teríamos que cumprir obrigatoriamente a média horária mínima no trecho de 13 Km/h. Uma média relativamente tranqüila, mas que não aceitaria grande erros ou quebras mecânicas devido ao nosso cansaço. Novamente um trecho monótono, feito com muito sono. Neste trecho, o Bruno teve 1 pneu furado.
Terminada a RS-401, acessamos novamente a BR-290, no KM 386 do brevet, restando até Porto Alegre 34 Kms. Trecho bem plano, asfalto razoavelmente bom, muito movimento na estrada e vento contra. O que mais me incomodava, dentre tudo o que pode incomodar uma pessoa que já pedalou quase 400 Kms em aproximadamente 26 horas era o sono. Fiquei preocupado em cochilar encima da bicicleta e acabar entrando na pista. O sono estava extremamente pesado. Após passar o acesso da BR-290 para a BR-116, com o sono praticamente fugindo do controle, decidi meter marcha pesada e ir o mais rápido que conseguisse. Desta forma, fui como um doido até a ponte de acesso a Porto Alegre, deixando os amigos um pouco para trás. Ao chegar na ponte, encostei para reagrupar com os amigos de Teutônia. O sono havia ficado pela estrada. Ao sentar no guardrail, não havia mais duvida quanto à conclusão do brevet. Restavam 2, 3 Kms dentro de Porto Alegre até o DC. Uma felicidade imensa! Mais uma meta alcançada rumo ao objetivo de estar na largada do brevet 1000 de outubro deste ano, também em Porto Alegre. Logo encostou o Ruimar, seguido pelo Muky e um tempinho depois o Bruno e a Suzana. Expliquei que tive que socar a bota por conta do sono.
Juntos, atravessamos a ponte e já estávamos em Porto Alegre. Lembro de encostar ao lado do Bruno, falar alguns palavrões e dizer que não acreditava que estávamos lá, completando o brevet. Bom demais! Tri bom tchê! Contornamos algumas ruas e já estávamos na rua do DC. Peguei o celular e liguei para casa, avisando minha esposa e filhota que havia conseguido. Minha esposa é minha grande incentivadora nestas maluquices, tanto para participar dos brevets como também na organização das provas aqui em São Paulo. Até para sermos doidos, o incentivo da família é extremamente bom!!!
Assim, cansado, dolorido, caindo de sono e extremamente feliz, conclui o brevet 400 de Porto Alegre, junto com os novos amigos Bruno, Suzana, Ruimar e Muky. Espero recebê-los em breve aqui em São Paulo para retribuir a cordialidade com que fui recebido no grupo.
Depois de receber o certificado e medalha, fui para o hotel pedalando, tomar um banho, comer, descansar, desmontar as tralhas e voltar para São Paulo, com o Brevet 400 nas mãos.
Este brevet foi também uma aula, um balão de ensaio. Vi que preciso ser mais rápido na estrada e principalmente nos PCs, para ter algum tempo de descanso nos brevets mais longos. Acima dos 400 Km, será impossível fechar o brevet sem descansar, dormir. Agora é treinar para os 600 e colocar os aprendizados em prática.
Que venha o 600!!! 29/09/12!!!

9 respostas em “Relato – Brevet 400 – Porto Alegre – 14/07/12 – Fabio Guariglia

  1. Parabéns !!! Li o relato no conforto do lar, em um dia frio aqui de SP (17 graus positivos!!) e não pude deixar de levantar da cadeira para pegar uma blusa. Difícil imaginar o que é estar na estrada, no escuro, cansado e com a temperatura beirando o ZERO… Zero é punk!
    Mandou muito bem Fabião !!! Agora vc tem mais um excelente desafio completado na bagagem! E que venham os 600km e depois os 1000km! Showwww!!!

  2. Parabéns pelos ótimos relatos. Que fazem com que tenhamos mais vontade ainda de participar de um evento desses. ( curiosidade vc participou do 600k ? )

    • Oi Marcelo. Participei sim, do BREVET 600 de 29/09 em Boituva. Infelizmente não completei por alguns pequenos detalhes de logística e também por conta da altura do selim mal regulada (1 cm mais alto), o que ocasionou forte dores no joelho. Acabei parando no KM 200. As provas mais longas devem ser muito bem planejadas. Qualquer detalhe pode colocar tudo a perder.
      Um abraço!
      Fabio

      • De qualquer forma parabéns. E boa sorte da próxima vez.

  3. Parabéns pela prova e relato, participei do Audax 300 realizado em holambra-SP em junho/13 e tive problemas com as minhas lanternas, li que utilizou uma de 900 lumens, pode me passar a referencia certa para eu adquirir ? Abs.

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