Relato – Brevet 200 – Campos do Jordão – 08/11/14 – Fabio Guariglia

Brevet 200 de Campos do Jordão, abrindo a série 2015 do Audax Randonneurs São Paulo, classificatória para o maior evento randonneur do planeta: O Paris Brest Paris, que terá sua 18ª edição em agosto de 2015! Não pedalava um brevet desde o 300, de fevereiro deste ano.
Trajeto com lindas paisagens em estradas vicinais, passando por diversas pequenas cidades. Extremamente desafiador com seus quase 3.500m de subidas acumuladas, foi traçado com todo carinho por nosso amigo Richard Dunner, o mago das bikes!
Meu brevet sempre começa uma semana antes, com uma boa revisão na magrela, separação de toda a tralha a ser levada, estudo detalhado do trajeto e planejamento da prova. O planejamento foi simples: Sentar na bike e poupar as pernas para as “infinitas” subidas, visto que os treinos não estão em dia. Tinha em minha cabeça que a hidratação, reposição de sais e alimentação seriam cruciais para um cara que não treinou como deveria para este percurso. Não tendo cãibras e fraquezas por conta de falta de alimentação, conseguiria manter um giro mínimo para fechar os 206kms dentro das 13:30 horas permitidas.
Assim levei comigo capsulas de sal e saches de carboidrato para as reposições e emergências. Pretendia ingerir somente o mínimo necessário de comida sólida, visto que fico extremamente enjoado durante os brevets.
Em nossos brevets do Audax Randonneurs São Paulo, são disponibilizados nos PCs água gelada, gatorade gelado, lanche salgado, frutas e doce, o que seria suficiente para qualquer necessidade de algo sólido.
Sábado às 6:20 eu já estava no Restaurante Castelão, em Tremembé, local da largada/chegada. Às 6:45 tivemos o tradicional briefing do Rogério e às 7:02 largamos.
Aproximadamente 10kms de trecho totalmente plano até chegar ao trevo de Tremembé. A partir daí, mais 10kms até chegar ao pé da serra nova de Campos do Jordão. Este trecho foi bem tranquilo e aproveitei bem o vácuo dos pelotões que iam se formando.
Com 20kms e já no pé da serra, a brincadeira começava de verdade! Neste primeiro trecho, com 8,5kms de subida até o viaduto de acesso a Santo Antonio do Pinhal, já chamei a “vovozinha” e assim subi com média de 8, 9 km/h. Qualquer forçada a mais neste início poderia custar o brevet mais pra frente. Já nos primeiros quilômetros da serra, tirei os manguitos e a camiseta de baixo, pois já estava suando mais do que tampa de marmita. Camiseta completamente aberta para o radiador não ferver. Passando pelo túnel deste trecho, todo um pequeno vento era canalizado dentro do túnel, transformando-o em um verdadeiro túnel de vento gelado. Foi muito bom pra aliviar o calor. Após 2,5kms temos o acesso a Santo Antonio do Pinhal, com seus suaves quase 20% de inclinação.
Dentro de Santo Antonio, fiz uma parada estratégica em um supermercado para tomar uma coca cola, capsulas de sal, um sache de gel e reabastecer as 2 caramanholas de água que já estavam praticamente no fim. Poucos minutos depois já estava na estrada novamente.
Um pouco antes do trevo de acesso a serra velha de Campos, havia um touro louco solto na estrada. Os carros estavam parados enquanto um agente da concessionária tentava tirá-lo da pista. Vários “olés” do touro e nada de liberar a estrada. Já estava me sentindo em Madrid….. . Passado algum tempo, estrada liberada!
Passado o trevo de acesso a serra velha de Campos, segui sempre atento a planilha de rota, pois este trecho era novo pra mim. Cruzei com alguns amigos neste trecho, dentre eles Silvia, os irmãos Guarini, Roux, Blade. Segui sempre em meu ritmo um pouco mais lento.
Trecho com muitas descidas, ia descendo e imaginando o quanto essas descidas iriam custar caro na volta. Com 69kms rodados, chegava a cidade de Monteiro Lobato, onde há o acesso para São Francisco Xavier, PC1, por uma pequena serrinha de 20kms. Parei em um boteco para mais uma coca cola, mais sal, mais gel e mais água. Segui com o sol dando o ar de sua graça bem no meio do meu crânio! Sensacional!
A 10kms do PC1, já comecei a cruzar os randonneurs que estavam no caminho de volta. Um dos passatempos que tenho enquanto estou sofrendo encima da bike é ficar fazendo contas(!). A cada randonneur que passava no caminho de volta, eu calculava a quantos kms estava a minha frente e sua média horária. Calculei a média de uns 5. Até o PC1, contei mais ou menos um 50 randonneurs a minha frente.
Cheguei no PC1 com 89kms, em São Francisco Xavier, bem cansado e com a ideia de abandonar passando pela minha cabeça. Sofri demais nos kms finais até ali, e ao imaginar ter que subir tudo o que eu havia descido……….desanimo total. Pensei bem e decidi abandonar somente 20kms pra frente, no boteco de Monteiro Lobato.
Hidratei bem com água e gatorade. Mandei pra dentro mais capsulas de sal visto que a alça de meu capacete já estava branca. Gel, 2 pedaços de lanche salgado e 1 paçoquinha. Passei protetor solar e sai.
20kms na serrinha entre São Francisco Xavier e Monteiro Lobato. Precisei fazer algumas paradas para jogar água na cabeça. Após a subida, uma boa descida que acabou dando um certo animo. Estava no boteco com 109kms! Mandei uma coca bem gelada pra dentro, sempre acompanhada de sal. Já estava bem enjoado, a ponto de nem o strogonoff de minha sogra conseguir me apetecer……pensei e decidi que não abandonaria ali. Ao invés de pensar na totalidade da prova, passei a pensar em trechos. Então dividi o resto da prova em 5 trechos: do km 109 até o km 130, onde acabava este trecho de subidas. Do km 130 ao km 147, no PA do pé da serra velha. Do 147 ao 161, topo da serra velha de Campos. Do 161 ao 169, local do PC2 na praça São Benedito em Capivari. E o trecho final, do 169 ao 206, com 20kms de descida da serra nova.
Pau na máquina! Sai do boteco pensando somente nos 21 kms a frente, sendo 12 de subidas leves e moderadas. Antes do 6 kms finais, fiz uma parada em um boteco para mais coca, água, sal, gel e ainda consegui mandar pra dentro um sorvete de uva. Depois de panguar pelos 6kms finais do trecho, pude ter a sensacional visão das descidas até o trevo de acesso a serra velha!
Neste segundo trecho seriam 17 kms até o PA sendo 7 de descidas e planos e 10 de serrinha, com subidas e descidas intercaladas. A partir do trevo de acesso a serra velha, o caminho era velho conhecido, onde sabia de cor todas as subidas e descidas. Saber os pontos exatos onde serão necessários grandes ou pequenos esforços nos dá uma certa tranquilidade. Nada mais agora era desconhecido. Estava em casa! Pouco tempo depois cheguei ao PA do pé da serra velha, com 147kms, já tendo subido 2512m! Sabia que este seria um ponto crucial. Teria que hidratar e alimentar bem, para ter condições mínimas de subir os 13kms da serra velha, com seus 11% de inclinação. Sabia que iria sofrer bastante. Aproveitei para esticar e alongar as pernas. Hidratado, alimentado, alongado e devidamente abastecido, sai para encarar o maior desafio deste brevet.
Foi uma subida extremamente lenta e com várias paradas para descanso e água na cabeça. Total de 1:40 de subida. A cada quilometro fazia contas de médias e horários previstos de chegada ao PC2 em Capivari. Nos quilômetros finais da serra, minha média geral já estava abaixo dos 15km/h. Nada desesperador por saber que teria, nos próximos trecho, bons planos e a descida da serra, onde recuperaria a média. Ao contornar a ultima curva da serra e avistar o portal, a sensação foi incrível. Logo após o portal, uma boa decida e um longo trecho plano até Capivari. Espetáculo! Assim cheguei ao PC2.
Sai do PA no pé da serra com média geral de 16,3km/h. Cheguei ao PC2 em Capivari às 18:35, 169kms pedalados e 3207m de subidas acumuladas, com media 14,6km/h. Restavam 2 horas de prova. Hidratei, mandei sal, comi 2 bananas, abasteci as caramanholas e segui.
Depois de aproximadamente 5kms de planos dentro de Campos do Jordão, já imbicava na descida da serra. Lanternas acessas e farol ligado. Marcha pesada. Total cautela. Com velocidade variando de 50 a 69km/h, qualquer vacilo poderia acabar em acidente. Em anos anteriores, tivemos um acidente grave durante esta descida. Em determinados pontos o asfalto ficava molhado de repente. Passando pelo acesso a Santo Antonio do Pinhal, uma forte neblina já se formava no alto. Ao passar em frente ao posto da policia rodoviária, asfalto encharcado e a noite já tinha caído. No pé da serra, minha média horária estava em quase 16km/h. Alivio por ter descido bem a serra e por ter recuperado a média. Tinha tempo suficiente para percorrer os 11kms finais até o Castelão.
Somente uma quebra grave ou um tombo poderiam me tirar do brevet. Então pedalei estes últimos 11kms com total atenção e cuidado. O asfalto estava completamente molhado e os faróis dos veículos que vinham em sentido contrário da estrada atrapalhavam demais a visão.
Após a ultima subida do percurso e mais alguns kms em trecho plano, cheguei ao Castelão com 12:56hs de pedal, todo estraçalhado, mas com o brevet garantido.

Bóra pros 300!

6 respostas em “Relato – Brevet 200 – Campos do Jordão – 08/11/14 – Fabio Guariglia

  1. Excelente relato, Fabio. Minha experiencia em 2014 foi quebrar a prova entre os PCs…. assim não penso na km total mas sim na km entre os PCs…
    Parabens pela conquista!!! Abs

  2. GOSTEI MUITO DO RELATO E ME INSPIROU MAIS AINDA COMO DESAFIAR MEUS LIMITES NOS VEMOS DIA 05/12/15 PARA PEDALAR ESSA INCRIVEL PROVA AUDACIOSA

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