Relato – Brevet 200 (organizadores) – Franca – 13/04/13 – Fabio Guariglia

Depois de 3 desistências seguidas, em 13/04/13 larguei para o brevet 200 de Franca. Pedalei 2 semanas antes a prova do organizador, visto que em 22/04 entro em férias e viajo com a familia.

A primeira desistência ocorreu no brevet 600 do calendário 2012. Um erro no ajuste do selim, que ficou 1,5cm mais alto por conta da instalação do alforge, lesionou meu joelho e acabei abandonando o brevet no PC2, km 200. Por este erro, o objetivo de se tornar Super Randonneur foi adiado para o calendário 2013, que iniciou-se em 08/12/12, com o brevet 200 de Holambra. Pedalamos a prova do organizador em 07/12, eu, Richard e Silvia. Não estava treinado e pedalando pouco desde o brevet 600. No km 156, com um calor infernal onde o polar chegou a registrar 45 graus no asfalto, abandonei com fortes caimbras.

O terceiro abandono se deu no brevet 200 de 16/03/13 em Boituva. Nesta prova, realizamos os brevet 200 e 300 no mesmo dia, com trajetos diferentes. Como não consegui pedalar na sexta com o pessoal da organização, decidi pedalar no domingo 17, após a prova. Larguei às 4 da manhã. Vinha treinado constantemente e estava bem preparado para o brevet. No km 25, bati a roda traseira em alguma coisa na estrada, que acabou cortando a camara. Parei, desmontei o pneu rapidamente, chequei o pneu, coloquei a camara nova, montei tudo……..ao encher o pneu, vi que todas as camaras que havia levado possuiam bico curto e não consegui encaixar a valvula do cilindro de gás. Já há algum tempo não levava mais bomba manual, somente cilindros. Tentei ainda remendar a camara rasgada, mas estava muito danificada para o remendo. Fim de prova……….até hoje não me conformo com tamanha burrice. Ainda pensei em voltar ao hotel, pegar outras camaras e largar novamente às 7 da manha, mas o ânimo já havia ido por água abaixo. Agora, só me restava Franca.

Enfim Franca!!! Ultima chance de seguir no calendário 2013. Viajei na sexta feira 12/04. Fiz reserva no JP Palace. Hotel muito bom! Recomendo! Cheguei por volta das 19hs. Jantei em um restaurante ao lado. Festival de massas e risotos. Muito bom. Você monta seu prato com diversos ingredientes. Depois de alguns pratos de massa e risotos, fui pro hotel descansar. Largaríamos às 7hs da manha de sábado 13/04, eu, Batata, Alex e Vanessa.

Durante a madrugada, a chuva não deu trégua. Acordei, tomei café, me arrumei e a chuva estava lá, insistente. Sai do hotel em direção ao posto de onde largaríamos, com garoa. Exatamente no momento da largada, às 7hs, a garoa deu uma tregua. Largamos!

Saimos girando leve até o acesso da SP-345. Asfalto muito molhado e com isso seguimos em um ritmo tranquilo. O trecho da SP-345 é de 20Kms, com poucas subidas e algumas descidas fortes. Com o alfasto molhado e acostamento sujo, todo o cuidado era pouco. Em pouco tempo já estavamos acessando as rotatórias que dão acesso a Estrada do Leite. Não sei o por que deste nome, visto que na estrada só há plantações de cana de açucar. Deveria se chamar “Estrada da Cachaça”! Rodaríamos 60kms nesta rodovia até Batatais. Muitas subidas fortes, e muitas descidas também. Nesta estrada há curvas muito fechadas em descidas muito ingrimes. Qualquer vacilo pode acabar em acidente grave. Neste dia ainda havia um toque a mais: o asfalto molhado!

Girando sem forçar, fomos seguindo. A todo momento tínhamos que reduzir totalmente a relação para poder escalar as fortes subidas. Algumas curtas, outras mais longas. Com aproximadamente 35, 38 kms, passamos encima de um monte da cacos de vidro. Como não poderia ser diferente, um dos cacos abriu um pequeno buraco no pneu e cortou a camara. Pronto! O fantasma de Boituva e de não conseguir continuar no calendário 2013 começou a assombrar. Paramos, troquei a camara, montei o pneu, enchi na bomba manual (aprendi a lição: sempre carregue a bomba manual!) e dei a pressão final com o cilindro. O pequeno rasgo no pneu não comprometeria, apesar de ter pneu reserva, um Continental Gatorskin. Já há algum tempo venho girando com os Continental 4000s, sem utilizar Mr. Tuff. Furei alumas vezes neste tempo, mais do que estou acostumado. Bike pronta, bola pra frente!!!

Seguimos neste ritmo de subidas e descidas. Algum tempo depois, a chuva aparece com força total. Coloquei minha capa de chuva amarelona da BTWIN (presente do amigo Dennys Corbo), muito boa diga-se de passagem, e seguimos. Chuva pesada!!!

Passado algum tempo, a intensidade da chuva diminuiu, mas não parou. Em uma das descidas onde era possivel ver todo o seu comprimento e o asfalto em boas condições, descidi soltar os freios…..77km/h. Muito perigoso, mas a sensação da velocidade é fantástica. Deu um animo a mais pra seguir. Em determinado momento, estavamos eu e Vanessa a frente, Batata e Alex mais atrás, porém não conseguíamos vê-los. Paramos por um tempo. Ao ver o farol de um deles, bem distante, seguimos, Vanessa um pouco mais lenta. Esta parada me deixou com frio, então descidi pisar um pouco no ritmo e segurar mais a frente para juntarmos novamente. Fui girando e não nos encontramos mais. Como o Batata, a Vanessa e o Alex são de Franca, não vi problemas em nos separarmos. Segui no meu ritmo. Em uma das subidas fortes antes de Batatais, bem forte por sinal, ao levantar para pedalar de pé, o asfalto molhado fazia a roda traseira girar em falso. Tive que subir sentado, jogando o peso do corpo para trás. Esta subida ficou registrada no polar com 18% de inclinação. Começa bem forte e depois segue, mais leve, por quase 1,5km. Com certeza todos que irão pedalar em 27/04 se lembrarão dela, hehehehe.

Cheguei em Batatais embaixo de um dilúvio apocaliptico. Impossivel pegar a planilha para consultar a navegação. Segui pelo que eu lembrava depois de estudar o trajeto no bikely. Estudem o trajeto no bikely!!!! Sempre!!! Abram suas planilhas, abram o bikely e estudem passo a passo!!! Segui pela estradinha Ayrton Senna, passei em frente ao aeroporto, entrei a esquerda e parei em um botequinho para poder consultar a planilha, às 11:44, 86km, média de 18,18km/h. No botequinho haviam alguns senhores bebendo e jogando sinuca. Perei a bike na porta. Ao entrar, parecia muito aquelas cenas de filme de faroeste, onde o forasteiro para na porta do sallon e o piano para de tocar. Todos apreensivos, hehehehe. Virei atração no boteco, assim como a bike.

Enquanto consultava a planilha, tomei 2 cocas bem geladas. Coca cola gelada é algo fantástico! Sei que faz mal, sempre falam que tem um monte de açucar, sódio, estriquinina, veneno de rato etc. Mas é muito bom. Repoe as energias e da uma satisfação psicologica incrivel. Depois de orientado, abasteci as caramanholas com água e sai “virado no cabrunco”. A parada durou 15 mimnutos. Passei em frente ao PC1, posto Ipiranga, e deixei recado com o frentista para o pessoal, avisando que eu já havia passado e seguido. Como já estava abastecido, não parei.

Alguns quilometros a frente, já acessava a SP-334, sentido Ribeirão Preto. Chuva mais fraca, porém constante. Seriam mais ou menos 32kms até o PC2, na Anhanguera. Este trecho é a unica parte do trajeto em que não há fortes subidas. Há grandes planos onde facilmente gira-se a 40km/h. Há também grandes e longas descidas, que na volta acabam custando muito caro, hehehe. Pedevela pra cima, cassete pra baixo. A relação 50×28 foi usada em uma boa parte do tempo. Ao avistar uma barraca de fruta na beira da estrada, parei. Um senhor bem simpatico fumando um cigarrinho de palha me atendeu. Pedi a ele que cortasse meia melancia em fatias. Espetacular. Enquanto eu comia, ele me pediu para não dar ao macaco, e apontou para uma gaiola. Fui ver o macaco. Era uma gaiola bem velha, com uma placa bem grande escrito” FAVOR NÃO ALIMENTAR O MACACO”. Dentro da gaiola, realmente havia um macaco. Um macaco de carro, hehehehe. Tiozinho doidão! Recebi uma ligação do Batata. Ele, Vanessa e Alex haviam parado no PC2, pois o Alex além de estar sentindo fortes caimbras, havia caido, mas estava bem. Agora seguia sozinho.

Paguei e sai “sentando a chinela”, tentando aproveitar as descidas para aumentar a velocidade média, que neste momento estava nas casas do 18,2km/h. Sabia que na volta a média cairia muito. A mais ou menos 2kms de acessar a Anhanguera, senti uma porrada seca na roda traseira e mais uma vez o pneu estava mucho. Lembro de ter dito muitas palavras de baixo calão. Não sei quanto adjetivos dei ao pneu, o 4000s. Sei que tirei a camara furada, tirei fora o pneu, dobrei e guardei. Nem procurei saber o motivo do furo. Desenrolei o Gatorskin, montei na roda, coloquei a camara, enchi e estava pronto pra rodar novamente. Olhei pro 4000s dobrado e pensei: “Brevet não é coisa para fracos!”. Coloquei ele de castigo no alforge e sai a milhão. Fiquei uns 15 minutos parado e já comecei a fazer contas de medias horárias e tempo previsto para chegada em Franca. 15 minutos depois já estava no PC2, Graal, às 13:50, 122km, média de 17,86km/h. Neste PC, que é bem estruturado, comi um bom prato de massa e mais 2 coca colas. Comprei água para abastecer as caramanholas, 2 chocolates. Tomei 2 dorflex pois estava sentindo um leve incomodo no joelho direito e nas costas. Fazendo as contas: sai de lá às 14:20, a media geral estava em 16,64km/h. Restando 84kms e 6:10 para chegar em Franca, deveria fazer no minimo uma média de 13,63km/h. Até este ponto o polar marcava 1545m de subidas acumuladas

Sai do posto, fiz o retorno no trevo, voltei na Anhanguera sentido Ribeirão Preto e entrei no acesso para voltar a SP-334, sentido Franca. Agora todas aquelas descidas seriam grandes subidas. Preparei o espirito, a cabeça e bola pra frente. Seriam 41 kms até o PC3. Na maioria das subidas, ao entrar não se via o fim…..

Nas subidas, ia revezando entre pedalar de pé e sentado. Sempre que subia, contava 20 giros, com relação mais pesada, e depois sentava, com relação bem leve. Nos trechos planos ou descidas, marretava para não deixar a media cair muito. No trecho plano entre Brodowski e o PC3, foi bem rápido. Assim levei até o PC3, 163km, chegando lá às 16:25, com media geral de 17,32km/h. Comi um misto, tomei um gatorade e uma coca gelada. Sai de lá às 16:50, media geral de 16,58km/h.

Havia saido do PC2 com media geral de 16,64km/h. Estava saindo do PC3 com 16,58km/h. Consegui manter a media geral. Bom sinal!!! Até aqui, 2101m de subidas acumuladas.

Agora até Franca faltavam exatos 40kms e 3:40hs. A média mínima permitida era de 10,92km/h, relativamente tranquilo. Este trecho divido em 2 partes. A primeira mais tranquila, com alguns trechos planos, descidas e poucas subidas não muito ingrimes. O segundo, os 20 kms finais foram sofridos, por conta do cansaço e da escuridão, principalmente os 10 finais, praticamente todo em subidas.

Depois da última subida, ao avistar o trevo de Franca, pude relaxar e girar tranquilo. O brevet estava garantido! Acessei o trevo, fiz o contorno na avenida e cheguei ao posto às 19:07hs, com 12:03hs de pedal, média geral de 17,09km/h e 2743m de subidas acumuladas.

Depois de espantar os fantasmas das 3 desistências posso seguir no calendário 2013. A saga continua……………….

Abaixo segue o resumo do polar. Clique para ampliar.

polar

10 respostas em “Relato – Brevet 200 (organizadores) – Franca – 13/04/13 – Fabio Guariglia

  1. Parabéns Fábio, missão cumprida, apesar dos imprevistos e toda a dificuldade concluiu os 200, literalmente um pedal espartano debaixo de tanta agua

  2. Muito bom relato, ótimo p/ quem for fazer Franca… Apesar de ser a primeira que vejo, espero ver outro desses em todos os Brevets

    • Oi Erick. O gatorskin tem um giro mais pesado em relação ao 4000s. O 4000s gira muito! Porém, pelo fato do gatorskin ter uma malha mais fechada, possui uma resistência a furos e pancadas muito maior. Sempre girei com eles, sem Tuff, e nunca tive nenhum furo. Acabei girando o brevet até o final com 4000s na frente e o gatorskin atrás. Vou manter esta configuração. Se voltar com o 4000s, vou colocar o Mr. Tuff. Abraço! Fabio

  3. Ver a altimetria no bikely dá uma pista de que não se trata de um Brevet fácil. Depois de ler o seu relato, vem a certeza. Parabéns por ter concluído os 200km mesmo com todas as adversidades! Legal diálogo com o 4000s…
    Ufa! Vc já pode viajar tranquilo: já está brevetado para os 300! Show!
    Decidi tentar o Brevet com minha MTB no lugar da Speed. Estou com a impressão de que vou sofrer menos na MTB…

    • Talvez por ter mais intimidade com MTB do que com Speed, também optei por fazer com a MTB. Após o relato, descrevendo as subidas, acho que será a escolha mais acertada, pela relação…

  4. Oi Fabio,

    Parabéns, pelo brevet.

    Eu que fiz o levantamento do percurso, assessei certo ou errado?

    Lembre-se do meu e-mail falando de descidas e subidas violentas, percurso técnico, volta de subida, etc.

    Chega perto de Queluz?

    Abraços,
    Richard

  5. Parabéns Fábio, grande feito, debaixo de chuva!

    Aproveito para pedir um favor para mim, mas que pode ajudar a todos.

    Será que vc poderia baixar esse seu arquivo do polar para o Strava?
    O site apresenta declividade média de qq trecho que a gente selecionar, é extremamente fácil de usar.

    O login é de graça, mas se quiser eu mesmo importo e ponho o link do strava aqui.

    O strava aceita arquivos gpx, tcx, ou fit com até 25mb.

    Abraços,

    Marcus

    PS:Já fiz o estudo da altimetria pegando a imagem e jogando no cad, mas fica muito a desejar.

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